Só por hoje, a droga não entrou na nossa casa.
Só por hoje ele está sobrio.
Amanhã?
Não sei.
Amanhã é domingo, ele vai estar inquieto, irritado pelos dias sem uso..
E eu vou estar lá dividida entreos cuidados com minha bebezinha (que amanhã completa 7 meses) e ele, sempre de olho no portão, pra ver quem está chamando-o.
Ah! meu Deus..
Essa doença não é minha.. mas eu vivo em função dela, na esperança de afasta-la da minha familia.
Esperando por um amor sobrio e saudavel. Por um carinho sincero..
Não quero viver esta vida..
Quero fugir, pegar minha filha e recomeçar sozinha..
Não é comigo.. não é justo com ela, que nem estende nada ainda, mas já sente o clima de tensão quando o pai chega em casa completamente "lokão" com uma latinha de cerveja na mão e uma tonelada de pedidos de desculpas.
Ela fica quietinha nos ouvindo gritar, me vendo chorar e implorar pra que ele pense nela e pare com isso..
O psicologo dele me diz pra ser forte.
"Não tá na hora de abandonar o barco, Camila.. Ele precisa de você. Seja forte por você, por ele e pela Julia.." -- A cada consulta (nessa clinica, o medico conversa com a familia em todas as consultas) ele me pede paciência, força, pulso firme.
"Feche o cerco, mesmo que ele fique bravo, não facilite!" ele diz.
Como se fosse muito facil convencer um "homão" desses que ele não pode beber, não pode ver os amigos, não pode ir no bar.. que ele tem que ficar em casa comigo ou fazer programas comigo e nossa filha;
Não posso segura-lo em casa.. e mesmo que faça isso a droga vem até ele pelos amigos que chamam as escondidas no portão.
To tão cansada de tudo isso..
Nunca vou me esquecer do que ele me fez passar quando estava grávida..
Ve-lo chegar em casa dia apos dia drogado. Sem a minima consideração pelo meu estado.
Como foi dificil tudo aquilo.
Mas eu sobrevivi.
Nós sobrevivemos.
Mas até quando tenho que cuidar dele, na esperança que um dia ele cuide de mim?
Deus dai-me forças, só por hoje.