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Tenho 24 anos. Sou mãe de primeira viagem. Não fiz faculdade. Nunca visitei outros países. Gosto muito de ler, mas tenho uma dificuldade enorme em escolher um livro na livraria, e acabo voltando de mãos vazias ou com 5 de uma vez só. Minha vida é comum. Nada de muito extraordinário,exceto por um passado frio e sombrio que carrego na bagagem: Fui vitima de Abusos Sexuais na infância. E hoje 20 anos depois do primeiro abuso, consigo partilhar minhas dores de forma plena e aberta. Além disso, sou casada a 2 anos com o homem por quem me apaixonei a 4 anos atrás. Um homem lindo.Com um coração gigante, doce e carinhoso. Ele é dependente químico a 8 anos. Eu amo meu marido. E estou caminhando com ele rumo a Nossa Recureração. A droga não pode ser maior que o amor que nos une. Este Blog além de ser sobre a Dependência Química do meu amado, sobre minha Codependência e sobre Violência Sexual, é uma maneira de partilhar essas experiências doloras. Que alguém aí fora se identifique e saiba que não está sozinho.

sábado, 4 de agosto de 2012

Mãe.



São 11:38 da noite de sábado. Tá esfriando..


Ontem conversei com a minha mãe pelo Facebook.
Uma conversa meio fria, vazia.
Ela nem queria falar comigo, mandou minha irmã dizer que estava tomando banho, mas veio logo após eu escrever: "Tudo bem, tô acostumada. Sempre que eu quero falar com a minha mãe, ela tá no banho ou o celular descarregou, ou ela tá dormindo.. tudo bem. Só diz pra ela que a neta dela tá melhor. Era só isso que eu queria falar!"
Acho que o remorso bateu, e ela veio.


Eu já estava aos prantos..
Mas a tratei com carinho, afinal, é minha mãe.


Ela disse que não sabia do acidente da minha filhinha e que não veio vê-la porque está trabalhando muito.
Não questionei, conheço minha mãe..


Ela disse que nunca mais vem na minha casa...
Que meu marido não aceita minha família, que ele finge gostar dela e dos meus irmãos.. Que mais cedo ou mais tarde ele vai fazer oque o marido da minha irmã fez.. e ela prefere evitar.


Absurdo!


Meu marido nem se interessa pelo meu passado.. muito menos pela história da minha família.


Minha mãe tá evitando se expor, expor o marido dela. Ela tem medo de o meu marido fazer o mesmo que o da minha irmã e questiona-la pela escolha de manter um pedófilo como marido.


Eu só queria viver em paz com ela, queria sentir que ela me ama, sentir amor de mãe.
Eu levei muito tempo pra engolir o fato de ela me negligenciar não só como mãe, mas como ser humano.
O marido dela abusou de mim dos 6 aos 9 anos. Aos 8 eu contei pra ela..
Aos 12, ele disse a ela que estava apaixonado por mim. Me lembro bem desse dia. Ela fervia de raiva de mim: "Tá se sentindo agora, né?? Você vai morar com o seu pai!!"
Ela me pegou pelo braço, me levou na frente dele: "Pede pra ele falar que te ama!! Não é isso que você quer ouvir?!"


E ela sempre repetia que oque acontece dentro de casa, fica dentro de casa!


Eu cresci acoada, me sentindo rejeitada, calada, chorando a cada vez que ouvia a cama deles bater na parede de madrugada..


Aos 15, tentei suicídio. Tomei chumbinho. Quando percebi que ia morrer de verdade, me arrependi e contei a ela, que me levou as presas ao hospital, quase inconsciente.
Fiquei 3 dias na U.T.I, mas 3 em observação. 


Nada mudou.
A vida seguiu como sempre: Um inferno.


E eu sempre questionava a Deus: Porque comigo?


Antes do meu padrasto sofri mais 2 abusos de pessoas diferentes. E depois dele, mais 1, de um vizinho nojento! Acho que tinha uns 9 anos.


Esses eu nunca contei pra ela. Ou pelo menos não me lembro de ter contado. Também de que adiantaria?


Sempre me senti como uma criança, agarrada à barra da saia dela, implorando por um pouco de amor.


Até que aos 17, eu presenciei a última cena nojenta do meu padrasto para comigo. Contei no post Menina Azul (http://blogmeninazul.blogspot.com.br/2011/08/menina-azul_27.html)..
Foi aí que tomei coragem, ergui a cabeça e saí de casa.
E foi a melhor coisa que eu fiz..
Um mês depois, recebi a noticia que minha mãe tinha ido na casa das minhas tias dizer pra não acreditarem em nada que eu dissesse, pois eu estava inventando mentiras sobre meu padrasto, que ele nunca tocou em mim e que eu estava afim de aruinar o casamento dela por revolta adolescente.
Fui chorando á casa dela, perguntando PORQUE?
 Ela só me olhou e disse: Se queria taaanto ajuda, porque não chamou a policia. Você tá falando que eu não fui boa mãe? --chorando.




Hoje, eu só quero ela perto de mim. Embora eu saiba que isso é praticamente impossível. Sinto falta de abraço de mãe, de colo. Tô passando por momentos tão dificeis e tô sem ninguem por mim.. Apenas eu mesma e um bebê pra criar. Com um futuro incerto e tanta magoa no coração.
Sinto vergonha quando me perguntam porque minha mãe não vem ver a Ju, ou porque ela nunca esta presente. Sempre digo que ela está atolada de trabalho ou está doente.


No fundo invejo meu esposo. 
Ele uma mãe amorosa, cuidadosa, protetora.
Que enche ele de beijos e mimos.
Que o defende acima de tudo e todos.


No fundo da minha alma nunca vou superar a falta de amor e toda essa frieza da minha mãe.





Queria que ela amasse minha filha, que viesse ve-la. Que pudessemos aproveitar um almoço no domingo, ir ao parque.. que ela se interessasse pela minha vida, meus problemas..
Poder dizer que entendo que ela deve sofrer muito também, mas que eu estou aqui. Que as escolhas dela, deve ser como fantasmas que assombram ela todos os dias.


E ainda assim, eu a  amo tanto..


Ela cantou essa musica pra mim uma vez e hoje, sempre que ouço choro horrores.


http://www.youtube.com/watch?v=c8_TfzEWJk0







Mãe, me perdoa se não fui a filha que você queria que eu fosse.
Eu tentei.
Tudo que posso fazer hoje, é pedir a Deus que abra seu coração e me deixe entrar nele.
Te amo imensamente.




6 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Sol minha amiga..
    Acho que qndo se trata se assuntos familiares, ainda mais qndo eh a mãe da gente, tudo fica mais dificil.
    Pra ser bem sincera, os abusos, as tentativas de suicidio (que nao foi uma vez só, ja tentei cortar os pulsos), são coisas que ja não mexem mais comigo. Entendi que já passou, que são coisas que vão estar na minha bagagem pra sempre. Mas guardadas no lugar delas, quietinhas. Dói sim, sempre vai doer, por isso se chama trauma. Mas eu aprendi a conviver com isso.

    Oque machuca muito ainda, é a ausencia da minha mãe, a falta de carinho de amor..

    Antes, eu não ligava muito. Já estava acostumada.. pra mim não fazia mais diferença tê-la por perto ou não. Muitas vezes, eu até preferia que não a ver, porque agente nunca tem assunto, é como se eu fosse uma amiga, uma conhecida, não a filha dela..

    Mas qndo engravidei, qndo a minha filha nasceu e eu senti o gostinho da maternidade e como é maravilhoso, foi impossivel não reacender essa dor. Não me perguntar como uma mulher pode virar as costas pra uma filha, fingir que ela não existe. Saber que ela sofre por sua causa e não tentar fazer nada a respeito.
    A maternidade trouxe á tona o meu lado família.. quero te-la comigo, indenpendente do que houve lá atrás e de tanta coisa mal resolvida. Assim como eu finjo que nao aconteceu nada, ela podia fazer isso também.

    Mas isso nunca vai acontecer,
    Tenho que me conformar.

    E saiba que te conhecer também me fez um bem danado.. como eu disse no email, vejo muito de mim em você. e saber que minha história ajuda alguem, me faz sentir orgulhosa de mim..

    Obrigada amiga linda..

    E pode ficar no meu pé sim.. nao ligo não!!

    Beijos enormes!!

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  3. Camiiii.....só li hoje seu post...querida...é muito triste tudo isso...a gente sempre espera, sermos amados pelas pessoas óbvias que deviam nos amar...infelizmente nem sempre é assim...
    Não vou te dizer, não fique tristem ou não chore...ou seja forte...acho que e fácil falar dificil é sentirmos no coração isso tudo...
    Olha só tenho uma coisa a lhe dizer...menina DEUS te ama, sua FILHA te ama, busque conforto neles, que com toda certeza esse vazio será preenchido...aos pouquinhos vc vai preenchendo...

    Creia em DEUS, Camis...e olhe pra VC, busque ajuda pra VC, nem que vc leve sua filha junto...

    Vc foi no Amor Exigente...?..Vai querida la é de graça...eu tb naum tenho dinheiro pra fazer terapia....e no grupo e com a ajuda de Deus..é onde eu me fortaleço...pode até parecer MAIS VC NÃO ESTÁ SOZINHA...VIU...
    UM GRANDE ABRAÇO (.......... -- ...........)

    BJUUU

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    1. Oooo Kelzinha linda!!

      Vc me da tanto carinho! rs

      Preciso mesmo me apegar a coisas mais fortes que esse monte de lembranças tristes!
      Preciso ir na igreja, mas quero uma igreja legal, sabe?
      Uma que eu me sinta bem..

      E é como vc disse, aos poucos esse vazio vai sendo preenchido!

      Brigada pelo carinho! :)

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  4. Camila, ao ler seu post, a vontade que dar é de te pegar no colo. Menina, tente deixar esse passado tão doloroso pra trás para que ele não te cause ainda mais dor. E quanto a sua mãe, perdoe-a e não espere dela o que ela não pode te dar. Minha mãe foi embora do Brasil quando eu tinha dezenove anos, e nunca voltou. Sou orfã de pai, que morreu de overdose. E por muito tempo da minha vida, eu deixei essa carência de pais e autopiedade reger a minha vida, até que um dia eu resolvi mudar o jogo. Ame sua mãe, a aceite, mas, não espere nada que ela não possa te dar, para que você não sofra, querida. Olhe para a pessoa que te considera única, e a mais especial entre todas: sua filhinha! Meus filhos são quem me curaram de toda carência, além de mim mesma! E se agarre a Deus, ele também te ama! E eu também te amo incondicionalmente!
    Fica bem.
    Bjos.

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    1. Oi Poly, obrigada querida.

      E a carencia e autopiedade são realmente sentimentos horriveis!
      Ficamos nos sentindo solitarias e abandonadas.
      Quando na verdade não é bem assim..

      Posso não ter minha mãe presente, mas tenho irmãos lindos..
      Tenho uma filhinha maravilhosamente linda e sei que o amor que ela vai ter por mim vai preencher todo o espaço que a falta da minha mãe deixou.

      Quanto á minha mãe, eu a amo e a aceito. Mas oque me falta é exatamente oque você me disse: não esperar dela oque ela nunca vai me dar!

      Obrigada pelos conselhos flor!!!

      Aguardo o livro!!

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