Um lugar em mim, pra mim.

São 19:50hs. Tá frio.
Minha filhinha dorme como um anjo. Estão nascendo os 2 dentes de trás de baixo e os 2 de cima, de uma só vez.. Ela tá enjoadinha..choroza. Mas tá bem.


Desde o dia em que decidi voltar a trabalhar, tenho acordado pra diversas coisas, e muitas delas estão me fazendo perceber que eu preciso MESMO mudar.


Tenho tendência a deixar que a opinião das pessoas influenciem muito nas minhas decisões. Ouço muito oque me dizem e pouco oque EU me digo.
Percebi que embora a família dele diga gostar de mim, não é MINHA família e eles nunca vão pensar no que é melhor pra mim.
Ninguém quer saber como eu, Camila, vivo esta vida. 
O foco é ELE. É sempre o melhor pra ELE.
Estou sempre em segundo plano. Até eu me deixei em segundo plano.. sei disso.
A mãe dele é costureira, tem várias maquinas na casa dela, mas não trabalha mais. Ela me ensinou o Overloque quando engravidei, mas só sei fazer isso.
Quando o marido dela nega dinheiro ou o cartão de crédito, ela se irrita e me diz: Cami, vamos trabalhar!
E no outro dia o serviço chega. Mas é só ele voltar a ficar bonzinho que ela para e nem me avisa.. e eu fico na mão novamente..


Quando meu marido usa, eu sempre conto pra ela.
Sábado ele usou. Eu contei. Ela ficou chateada, me disse que era a ultima vez que ia tentar o tratamento ambulatorial já que falam tão bem do CAPS (e ele começou a ir lá) que se ele não parasse, ia mandar interná-lo involuntariamente..
Mas na frente dele.. ela fala com uma doçura, uma calma.. que me irrita!
No outro dia de manhã, ela trouxe roupas que comprou pra ele, como se nada tivesse acontecido..
Sei que é o jeito dela de tratar do assunto, mas isso está atrapalhando.. Ela é muito branda, sei que brigar não resolve, mas fingir que não aconteceu nada é pior ainda..
Ninguém quer saber se eu tenho roupas e sapatos pra sair (oque não tenho), se eu estou bem (oque não estou). 
Como já disse, o foco é ele.
Ela disse que não pode cuidar da Julia pra mim, o marido dela não quer. Ela não quer compromisso..
E ficou contra eu por a Julia na escolinha, e eu tonta, fico dando ouvidos..
Não sei oque fazer!
Será que eu estou sendo radical em querer por minha filha na escolinha com apenas 1 aninho?
Por vezes, quero esperar até o ano que vem, até ela ter 2 aninhos. E nesse meio tempo, terminar meus estudos em casa, á distância.
Por vezes quero ir amanhã conhecer a escolinha.. fazer um teste de 1 mês pra ver como ela se sai..


É nessas horas que vejo que não tenho controle algum sobre a minha vida.


Sou perita em dar conselhos, em dizer ás minhas amigas pra levantar a cabeça e pensar mais nelas mesmas. Mas comigo.. faço tudo errado..
Não sei tomar decisões, ser firme.. 
Algumas pessoas me impulsionam pra frente, algumas amigas me dizem pra pensar mais me mim, na minha pequena, trabalhar, pô-la na escolinha, ter independência financeira.
Pensando nisso, percebi uma coisa: o medo dele na verdade não é que eu conheça um novo homem, alguém saudável, que eu me apaixone loucamente..Alguém que perceba a mulher que sou e queira me fazer feliz.
Na verdade, acho que é medo de que eu tenha minha independência e um pelo dia diga: Chega! Não preciso disso!
E o deixe viver seu dilema sozinho.
E que o medo da mãe dele é esse também. Que eu veja que o mundo não é só o filho dela..


Sempre tem uma voz na minha cabeça me dizendo que isso não vai durar.
Que não vamos muito longe. 
Porque eu preciso viver assim?
Sei que decidi ajudá-lo a encontrar seu caminho. Mas será que esse caminho é o mesmo que o meu?


Será que eu quero mesmo passar os melhores anos da minha juventude ao lado de alguém que se droga, mente, me engana como se eu não fosse nada em sua vida? Como se eu fosse o saco de pancada das suas emoções?


O principal fator pra entrar nessa vida, tão sofrida, cheia de incertezas, choro e dor, é ama-lo.
Mas amor de verdade. 
Aquele amor avassalador, que nos completa, que nos faz sentirmos amadas, desejadas. Que nos faz sonhar em envelhecer ao lado dele. Sonhar em ser feliz todos os dias de todas as semanas, de todos os meses, de todos os anos..


Sem amor, nada sobrevive. Nada floresce.
Já reparou o quanto é fácil tirar a aliança e mandá-lo embora ou dizer que vamos embora a cada recaída?!


Até onde o amor é capaz de sobreviver a isso? A tanto desgaste, tantas lágrimas, tantos sonhos interrompidos e adiados.



Você pode dizer que o ama? Que AINDA o ama?
Uma resposta aparentemente simples, mas pode mudar o rumo de uma vida.


Não sei se ainda o amo.
Não sei se ainda o desejo como antes. É difícil sentir desejo por alguém que está sempre cheirando a bebidas e cigarro. 
As vezes acho que é pela Julia, por querer que ela cresça com o pai.


Não sei de mais nada..
Ele usou ontem novamente.
Eu chorei novamente.
Sofri novamente.
Me senti inútil e fraca novamente.
Me senti desprezada e sozinha novamente.
E decidi a mudar novamente.


O difícil é saber por onde começar.